28.1.15

O Conde de Cedofeita


Nasci a dois passos da rua de Cedofeita.

Cresci, fui à escola e o meu caminho era essa rua.

Por lá passavam os eléctricos e havia descargas e cargas de manhã.  Muita gente na rua. Uns a irem para o trabalho, outros para a escola...

Comércio de proximidade não faltavam. Mercearias, talhos, uma mão cheia de drogarias, padarias, etc. Os outros também não. Botões logo no ínicio, sapatarias e chapelarias, tabacarias e ourivesarias, casas de ferragens e uma loja da Singer, farmácias e papelarias. Havia também o engraxador e a apanhadeira de malhas. O movimento matinal das peixeiras, hortaliceiras, amoladores e cauteleiros abafava o zumbido dos eléctricos e o chiar dos carros.

Era o senhor Mota dos chapéus, o senhor Barros da drogaria, o senhor Costa e o Alfredo e o Rui que lá moravam.

Nessa altura eu conhecia muita gente da rua de Cedofeita e ouvia muitas histórias sobre as igrejas (a nova e a velha), as pessoas célebres que tinham vivido na freguesia, essas coisas que em criança ouvimos falar. Depois li algumas linhas sobre a rua, sobre a freguesia, sobre a história da cidade.

Na verdade foi uma coisa que não retive: O conde de Cedofeita. A viscondessa do Seixo com o palacete encostado à esquadra, essa sim. Os outros barões e restantes nobres tinham moradias mais na periferia ou só pertenciam a lugares longínquos.

Mas francamente o Conde de Cedofeita não existia na minha memória.

Há umas semanas um amigo abordou a personagem. Escondi a minha ignorância. Nem tudo está à mão. Documentos no computador. Livros na estante ou em cima da mesa. Mas cheguei a casa e procurei na sagrada rede (net) algo de concreto. Pouco ou quase nada. Uma referência a Cedofeita no Brasil, não era a minha Cedofeita. 

Depois folheando um dicionário de personalidades encontrei dados  que me permitiram elaborar uma muito breve nota biográfica. 


«Henrique Coelho de Sousa emigrou para o Brasil. Sabemos que durante anos foi vendedor de bigigangas e que se casou com Maria da Silva Rezende, proprietária da fazenda de Belmonte (em Matias Barbosa, Minas Gerais) cuja actividade principal era a cafeícultura. 
Consta que foi cônsul de Portugal em Juíz de Fora. 
Como outros emigrantes enriquecidos no Brasil, e noutras paragens, comprou o título de Visconde. Seis anos depois, em 1875, um decreto assinado pelo rei Luiz I elevou-o ao título de conde. No Brasil foi comendador da ordem de Cristo e da ordem da Rosa. 
Aparentemente nunca chegou a morar na freguesia de Cedofeita. 
Na sua fazenda chegou a receber a visita do imperador do Brasil Pedro II.
Arruinado veio a falecer no hospital da Beneficência Portuguesa no Rio de Janeiro.»


Nota: Aparentemente a antiga rua do Conde na extinta freguesia de Cedofeita nada tem a ver com Henrique Coelho de Sousa mas com o Conde de S. Salvador de Matosinhos.


1 comentário:

António Laúndes disse...

Na Rua de Cedofeita recordo os alfarrabistas que lá existiram também. Recordo também o "Salão Silva Porto" , nos anos 50 /60 um dos poucos mas muito importantes locais de exposição de Artes Plásticas, designadamente de Pintura .