7.6.14

A Casa do Doutor Assis Vaz (2014)

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Segundo alguns testemunhos recolhidos era onde se situava o Consulado de França no Porto em Maio de 1945.


Breve nota biográfica


Francisco d'Assis Sousa Vaz nasceu na cidade do Porto a 7 de Agosto de 1797, na Rua da Ferraria de Cima, actual Rua dos Caldeireiros. Filho de António de Sousa Vaz, que seria mais tarde Tenente das antigas ordenanças e de Ana dos Anjos de Sousa Vaz. Teve por mestre um frade instruído, Frei Manuel Cândido (5), teve aulas de Latim e Francês. Ficou aprovado no exame de acesso à Real Academia de Marinha e Comércio, em 1810, com 13 anos.
Obteve o certificado de Sangrador e Cirurgião a 16 de Março de 1815.
Matriculou-se de novo na Academia entre 1816 e 1820.


A situação política e social deteriorou-se, com o conflito entre liberais e absolutistas, entre 1826 a 1830, agravamento que dividiu os docentes e os cirurgiões e médicos do Hospital de Santo António, alguns foram presos, outros exilaram-se.

Assis Vaz começou por se esconder algures no País, em Malo de 1829 parte a bordo do lugre "Jara", tendo chegado a Londres em 18 de Junho.


Chegado a Inglaterra com outros liberais, pouco tempo se demorou, passando para Paris, na época o mais prestigiado centro médico, além de que o domínio desde criança da língua francesa, lhe facilitava a vida.

Em Paris foi estudando e fazendo exames na Escola Médica, até que conseguiu em 23/8/1832 o diploma de Doutor em Medicina.

As qualificações adquiridas fizeram com que em 1833 fosse aceite como membro (sócio correspondente) da "Sociedade Médica de Emulação" de que um dos expoentes era Velpeau, assim como fizeram com que, na epidemia de "Cholera Morbus"em Paris (1832), fosse nomeado pela Comissão Permanente de Salubridade, para tratar os doentes da vizinha comuna de Neuilly.

Em 1834, terminada a Guerra Civil em Portugal, regressa a Lisboa, e daí ao Porto. Ao mesmo tempo regressaram à Escola e ao Hospital, outros proscritos, como Agostinho Silveira Pinto, Viterbo, Vicente, Bernardo Pinto, António José de Sousa, etc.
O miguelista e director da Escola que denunciara e tentara banir os professores e estudantes liberais, Bernardo Campeão, saíra da Escola e tendo falecido em Janeiro de 1834, foi substituído como "Lente " da 5a cadeira, precisamente pelo regressado e prestigiado Cirurgião e agora também Médico e Doutor por Paris, Assis Vaz. No mesmo momento retomou as antigas funções de Secretário.

O Dr. Assis Vaz, além de prestigiado professor era um clínico muito considerado o que lhe trouxe uma numerosa clínica privada, mas o que mais o tornou conhecido na época foi o facto de ter sido escolhido para médico pessoal, juntamente com o seu colega professor da Escola Médico-Cirúrgica, António Fortunato Martins da Cruz, do Rei da Sardenha, Carlos Alberto, quando este veio residir para o Porto, em 1849 e onde acabou por falecer poucos meses depois.

O Dr. Assis Vaz redigiu em francês uma súmula das notas que tomou em conjunto com o Prof. Fortunato, e que poderiam ser elementos para a história da doença, que ofereceu ao Rei Vítor Emanuel de Itália. Este, em 1851, nomeou-o seu médico honorário, e em 1864 Comendador da Ordem de S. Maurício, por proposta do médico assistente do Rei, Prof. Riberi.

Nesse mesmo ano de 1851 foi nomeado Director da Escola em substituição do fundador dos Estudos Anatómicos no Porto, Prof. Vicente José de Carvalho, que falecera.

Depois de ter sido agraciado com o grau de Comendador da Ordem de Cristo, foi jubilado, a seu pedido, por decreto de 29/3/1853, mas continuando com a direcção da Escola.

Sempre preocupado com o problema dos Expostos, inicia em 1855 a publicação anual de relatórios sobre o tema. Nos anos que se seguiram foi membro de inúmeras comissões governamentais ou de autoridades administrativas, sobre prevenção de epidemias de cólera ou febre tifóide, repressão da prostituição, etc.

Faleceu em Abril de 1870.

Para conhecer melhor o documento original pode consultar esta página: http://www.luisdecarvalho.com/reflexoes/educacao-medica-e-ensino/75.html



Sobre o edifício podem também ler:

" O edifício situa-se na área de transição entre a cidade “intra-muros” medieval e a expansão que se foi desenvolvendo ao longo da ligação que partia da Porta do Olival, na Muralha Fernandina, e as localidades da estrada para Vila do Conde, via Cedofeita.
O edifício incorpora várias fases de transformação anteriores à sua configuração actual, evidenciadas, sobretudo nas diversas técnicas construtivas utilizadas (pedra, ferro fundido, betão armado).
A forma actual do gaveto do quarteirão já está patente na planta de Telles Ferreira, de 1893, mas aí ainda está aberta a viela que percorria o interior do quarteirão nas traseiras dos diversos lotes que fazem frente para o Campo Mártires da Pátria.
Através do levantamento somos conduzidos a interpretar este lote como tendo resultado da reconfiguração de duas casas preexistentes, perceptíveis nos alinhamentos das paredes interiores da cave. De facto, o lote actual é de dimensão sensivelmente dupla da das casas vizinhas, marcadas ainda pela antiga métrica cadastral do quarteirão.
A existência de vãos que ligavam essas casas à viela, sendo um desses vãos servido por uma rampa “de rolar pipos”, permite-nos alimentar a interpretação da existência de duas construções, anteriormente independentes, que terão sido fundidas para dar origem ao edifício actual na sua versão original.
Como última alteração substancial do edifício verifica-se a transformação das portas voltadas à Praça Parada Leitão em janelas e a construção, em acrescento e imitação, do volume que ocupa o topo da antiga viela. Esta adição que é datada dos anos 40, foi licenciada e construída com estruturas mistas de pedra e cimento, nomeadamente na execução das molduras dos vãos que imitam as cantarias de granito do edifício original. Esta transformação estará ligada a uma mudança funcional: enquanto edifício inicial tinha um funcionamento (pensão) que afectava todo o edifício à mesma actividade, depois dessa alteração e adição o edifício passou a contar com dois acessos autónomos para duas funções diferentes, com habitação no último andar e a sede de uma empresa nos pisos inferiores.
A existência de casas anteriores à pensão é ainda evidenciada pela existência de sacadas e vãos virados à viela, agora absorvidos pela última transformação do edifício.
No interior, é notória, no rés-do-chão, a substituição de uma parede estrutural por um pórtico que usa pilares de betão e um pilar metálico, com decoração da época de construção da pensão.
A existência de uma “rampa de rolar pipos” de ligação da cave à viela pode ser interpretada como preexistência de uma casa de carácter rural, provavelmente anterior ao século XIX, ou por um estabelecimento com adega, o que não seria estranho a uma localização de caminho muito concorrido."
in: http://edificioparadaleitao.wordpress.com/historia/

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