24.7.13

Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto

2013_169

Uma das associações (profissionais) que continua viva desde 1882 na cidade.

Só ontem soube que o funeral de Abel Salazar esteve programado para este local tão simbólico da cidade, através do blogue "A Cidade Surpreendente". Na altura os esbirros da PIDE impediram que tal coisa se realizasse...

Actualização:

Após publicação solicitei ao amigo Augusto Baptista uma mão cheia de linhas para relatar um pouco do historial da associação à qual pertence e participa há alguns anos.

Em desordem, aqui vai o seu texto:

« 
Carregar água com a peneira
AJHLP: Cento e Trinta e um anos

A Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto completa, no próximo dia 13 de Outubro, 131 anos. Instituição aberta à sociedade, solidária. Desde sempre desaprovou a cómoda visão paroquial, bairrista, para abarcar a prodigiosa diversidade do mundo. Os primeiros estatutos, coligidos por Sampaio Bruno no ano de 1885, realçam a defesa da liberdade de expressão, a representação condigna da classe, o socorro e protecção aos associados. Mais de um século depois, como se o nosso ofício fosse o de carregar água com a peneira, nada ainda está garantido: a matriz permanece inalterável, a firmeza de um dia chegarmos com a peneira cheia de água também.
Somos mais de quatro centenas de escritores, jornalistas, actores, artistas plásticos, personalidades ligadas à ciência – de Portugal, de outras partes da lusofonia, da Galiza. Em Junho de 1901, dezasseis anos depois da abertura, entre os membros da Associação aparece a primeira mulher: Clorinda de Macedo, professora e poetisa.
Intensa actividade cultural marca o longo caminho: por aqui andaram e repartiram a palavra centenas de intelectuais: como Érico Veríssimo, Leonardo Coimbra, Alberto Moravia, Umberto Eco, Teixeira de Pascoaes, Eugénio de Andrade, Luísa Dacosta, José Saramago ou Lawrence Ferlinghetti. Óscar Lopes, durante anos membro do Conselho Literário, foi na década de sessenta, do século passado, um dos responsáveis da programação de vanguarda desta casa que nem sempre o Porto soube respeitar. Quem carrega água na peneira não desiste, jamais abdica.
Empresa imaginativa e persistente, com Loureiro Dias à frente de um restrito grupo de associados, foi a construção da sede. O Presidente da República Bernardino Machado lançou a primeira pedra; anos depois, por volta de 1930, a pedra fez-se casa da palavra não cativa, no coração da cidade. Um ano volvido, por iniciativa de Leonardo Coimbra, a Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto propunha Teixeira de Pascoaes a candidato português ao Prémio Nobel da Literatura. Mais tarde, em períodos diferentes, indicava à Academia Sueca os nomes de Aquilino Ribeiro, Miguel Torga e, por fim, Agustina
Bessa-Luís. 
A AJHLP dispõe de biblioteca com cerca de 30 mil títulos e arquivo de manuscritos, fotografias e outros documentos de importância cultural de relevo. Dispõe ainda, e talvez seja essa a sua maior riqueza, de imensa capacidade de regeneração: de ser memória múltipla e desfechar as grandes alamedas do devir.

II.
Biblioteca, Auditório, Bar

Nos anos sessenta, o edifício-sede da Associação, construído três décadas antes, mostra os primeiros sinais de degradação. Em 1974 é negociado com a Fundação Gulbenkian um apoio para as obras. A Câmara Municipal do Porto obriga a subir mais dois andares, o que absorve as primeiras verbas. Retraiu-se a Gulbenkian. Entretanto, um subsídio da Secretaria de Estado da Cultura e a oferta de materiais, por parte de algumas empresas, permitem concluir as obras do primeiro andar – primeiro e único, até hoje.
O edifício é composto por cinco pisos; o rés-do-chão está ocupado por dois 

estabelecimentos comerciais.

Segundo o projecto dos arquitectos António Portugal e Fernando Lanhas, reformulado agora pelos arquitectos Emílio Teixeira Lopes e Pedro Gomes, os dois últimos andares destinam-se à instalação da Biblioteca/Hemeroteca,   Sala de Leitura, e do Auditório multiusos com capacidade para cem lugares. No terceiro piso fica o bar/ café-concerto. O restante espaço destina-se aos serviços da AJHLP, depósito de espólio, arquivos e ateliers de criação.


III.
Meio milhão de poemas

A actividade associativa, nos últimos anos, além da estrutural questão das obras, repartiu-se por colóquios, edições, acções de rua, conferências, lançamento de livros. A AJHLP cooperou com autarquias (Porto, Vila do Conde, Gaia, Paços de Ferreira, Espinho, Famalicão, Fafe, etc.) e instituições como a Sociedade Portuguesa de Autores, Associação Portuguesa de Escritores, Clube e Sindicato dos Jornalistas, Associação de Escritores em Língua Galega, Associação de Escritores de Espanha, Instituto Italiano de Cultura, Festival de Poesia do Condado (Galiza), Inatel, Instituto Português da Juventude. Foi a primeira instituição do Porto que José Saramago visitou depois de conquistar o Nobel da Literatura. Alguns dos seus romances, na década de oitenta, foram aqui lançados. Do lado português, foi a entidade organizadora do Prémio de Narrativa Galega e Portuguesa. Este galardão, patrocinado pelo Eixo Atlântico, é único no género entre os dois países.

A Poesia está na Rua
No 25º aniversário do 25 de Abril, A AJHLP, com apoio do Inatel, distribuiu cerca de meio milhão de poemas, impressos em panfletos, em todas as cidades do País, de 50 poetas de Portugal, Galiza, Timor e Brasil. O Presidente da República, Jorge Sampaio, participou na distribuição dos poemas – todos eles inéditos – nas ruas do Porto. Aderiram à iniciativa, entre
outros, os poetas: Eugénio de Andrade, Manoel de Barros (Brasil), Xanana Gusmão (que nos enviou um poema da Indonésia, quando ainda se encontrava na prisão), Mário Cláudio, Maria Teresa Horta, Daniel Faria, Pedro Tamen, Urbano Tavares Rodrigues. Além dos poemas em panfletos, publicámos, em cartaz, dez poemas de dez autores portugueses entretanto desaparecidos: Natália Correia, Ruy Belo, Alexandre O'Neil, Carlos de Oliveira, José Gomes
Ferreira, Luíza Neto Jorge, Luís Veiga Leitão, David Mourão Ferreira.


Auto-retrato do Artista Enquanto Jovem
Ciclo dedicado à divulgação de novos autores e criadores de diversas expressões. Entre outros,participaram Daniel Faria(poeta), Manuel Jorge Marmelo (escritor), Rui Pinheiro (fotógrafo), Sílvia Brito (actriz).


 A Liberdade de Imprensa na América Latina, com a presença de veteranos da luta pela liberdade de expressão no México, Argentina e Brasil.


Lorca Politicamente Incorrecto, conferência proferida pelo Prof. Alonso Montero.


Evocação a Ferreira de Castro, pelo escritor e cineasta António Amorim.


Homenagem ao poeta Papiniano Carlos, com participação, entre outros, de Urbano Tavares Rodrigues e José António Gomes.
Homenagem aos Poetas da Centelhaesta iniciativa integrou uma exposição das obras publicadas pela editora coimbrã, antes do 25 de Abril; a edição do livro: Poetas da Centelhacom inéditos de António Manuel Lopes Dias, Manuel Alegre, José Manuel Mendes e Rui Namorado 


 Prémio Revelação de Poesia Almeida Garrett, destinado a poetas com idades até 30 anos, este prémio teve a sua primeira edição em 1999, e vai ser agora retomado. O livro vencedor, Egon Schiele, Auto-retrato de Dupla Encarnação, Valter Hugo Mãe, foi editada pela AJHLP.

_ _

Data da fundação da AJHLP - 13 de Outubro de 1882


Corpos Gerentes da AJHLP  (2012 a 2014)

Assembleia Geral

Germano Silva; António Cadete Leite; Vergílio Alberto Vieira.

Direcção

Francisco Duarte Mangas; Augusto Baptista; Carlos Cunha; Jaime Froufe de Andrade; Manuela Espírito Santo; Nuno Higino; Paulo Silva.

Conselho Fiscal

Manuel Leal Freire; José Vigário; Onofre Varela. »

Sem comentários: