12.2.12

O 18

0 18

TERMINUS : Foz do Douro

Adeus adeus
que não tenho pressa
vou no eléctrico
com a minha amada
até à Foz

Deixem-me estar
assim
debruçado
sobre
o sonho
saboreando
o sal
o sol
o mar
os olhos
da minha amada
onde me perco
e renasço

Adeus adeus
deixem-me estar assim
que não tenho pressa
quero adormecer
para sempre
contemplando
o mar
dos olhos
da minha amada

Mão na mão
desafiando a cidade
os vizinhos
e o sono
vamos no 18
até à Foz

E o eléctrico
é já
um navio de bruma
que resiste
a todas as marés
e
sonolento
desliza
para os lábios do delirio

Quando chegou
ao fim da linha
o 18 não parou
entrou mar adentro

Nao sabia
o eléctrico
por quão triste
estava o mar
naquela tarde
em Fevereiro
as ondas
do mar da Foz
eram
só lágrimas
e sal
porque nunca houvera
visto
uns olhos
tão de bruma
e sol
e sonho

Antonio Barbosa Topa





António Barbosa Topa, nascido no Porto em 1948. Jovem poeta de Gaia, na sua juventude, com publicação nos suplementos juvenis dos diários lisboetas. Amigo desses tempos e companheiro de aventuras durante anos. Exilou-se em França em 1969, trabalhou após o 25 de Abril na antiga Secretaria de Estado da Emigração.
Ligado ao movimento associativo e ao desenvolvimento cultural sempre teve o lazer ocupado pela escrita e pela poesia. Colaborou em várias publicações da emigração.
Autor de dois livros de poesia: "O fio da palavra" (1993) e de "Sur les lèvres du silence/Pelos lábios do silêncio" (2000). As suas poesias foram editadas em várias antologias.






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