18.2.12

ANIVERSÁRIO


Sem barulho, sem fazer saltar rolhas de vinho da Bairrada, sem acender um Patagras, o blogue entra no sexto ano de existência.

Penso que o blogue continua a existir com altos e baixos, de uma maneira irregular vai mostrando as ruas do Porto, aquelas que toda a gente (da cidade) conhece e algumas que só são conhecidas dos vizinhos.

No início, eu não pensava que iria ter que andar tanto, que não teria tantos assuntos a tratar. Mas, de repente, dou conta que já mais de 700 artigos foram aqui publicados.

Agrade ou não, apercebo-me que, diariamente, tenho leitores. Tenho a certeza que alguns continuam a viagem para outras paragens pois não encontram aqui o que desejavam, mas também há aqueles que se interessam e que continuam a leitura.

O blogue evoluiu. Foi bom? Foi mau? Foi dentro das minhas possibilidades. É verdade que, no início, transcrevia longos textos sobre assuntos que pessoalmente me interessavam, depois deixei de o fazer. Também tenho deixado de lado certas impressões pessoais, memórias e recordações. Durante semanas nada aparece, depois, como por acaso, aparecem coisas – como me dizia há tempos um amigo que tinha iniciado um blogue: “Ó pá, isto dá muito trabalho!”

O blogue mudou. Achei, ao longo dos meses, que deviam existir brancas. Que o blogue não é um trabalho académico, não é um discurso sem fim. O blogue é pessoal, não é científico!

“As Ruas da Minha Terra” é um blogue de fotos (acompanhadas por um pouco de texto). Às vezes perguntam as minhas fontes... Normalmente os textos dos autores estão assinalados com os respectivos “links”. Mas o efémero da net também faz desaparecer as ligações. As fotografias, na maioria dos casos são minhas, artísticas ou más.

E depois. O blogue também é elaborado a pensar nos leitores. Não faço a menor ideia se tenho leitores regulares. Talvez não. Mas isso não importa, tentei dar a esta coisa – desde o início – um cariz pedagógico. Talvez não seja tão aparente como isso, mas está lá. Deixo por aqui e por ali umas dicas, depois o leitor pode ir aprofundar o assunto nos livros. Não sou o Historiador para contar os factos que se passaram aqui no século tantos e esquecer de citar os factos mais recentes, e quem sabe tão importantes também. Não sou o Pregador exaustivo para relatar cada ondular de uma rua com as seus picarescos detalhes. Não sou o Artista ou o Arquitecto para desenvolver um discurso sobre tal edifício digno de interesse por razões X, ou deixar meia dúzia de linhas sobre um azulejo ou uma estátua.

O blogue é assim porque é assim que eu vejo, eu sinto a minha cidade.

Mas o blogue também é informativo. Desde o início que eu tive a preocupação de indicar a localização de cada rua publicada. No início nas fotos publicadas no Flickr, ultimamente no final de cada um dos artigos.

E o blogue, às vezes, também é interactivo. Por vezes aparece o sobrinho bisneto a deixar um comentário ou a sugerir-me uma ressalva ao que eu tinha deixado – são os interactivos positivos. Claro que com o passar dos meses, dos anos também surgiram – aqui e além – os interactivos “negativos”.

Alguns exemplos destes últimos:
a. O anónimo que durante semanas me enviou mensagens sobre o mesmo assunto. Quando viu que eu não as publicava porque a agressividade dele atingia a má educação, parou.

b. O estudante que tinha que fornecer um trabalho académico “urgente”. Até tinha falado com o professor. Depois de termos combinado um encontro, desapareceu. Tinha chegado a época dos exames e ele devia ter perdido muito tempo com as praxes.

c. O jornalista que preparava um artigo para o mês seguinte que no seu email não conseguiu ser explícito. Diante do café, pede-me que eu lhe arranje anedotas ou coisas insólitas sobre as ruas por ele escolhidas. É verdade que eu estou mais à vontade diante de um gravador do que diante de uma câmara, respondi que era ele que tinha que encontrar a coisa, como portuense que era, depois de me dizer que posteriormente ia mandar o fotógrafo do Jornal fazer as fotos das placas das ruas. Disse-lhe que as ruas não eram coisas para rir. Que as ruas eram casas, eram pessoas que nelas viviam, que o lado interessante das ruas era a gente. Quando me perguntou se eu era historiador, disse-lhe que não, que era um amador, que fazia isto por puro diletantismo. Umas semanas mais tarde na tabacaria do senhor Acúrsio peguei no jornal, não estava lá nada do que eu lhe tinha dito (pudera!) mas sim umas linhas eruditas sobre a meia dúzia de ruas faladas mais seis fotos das respectivas placas. Ainda bem! Assim eu posso conservar nos meus bolsos todos os berlindes da rua da Sovela e das memórias que me chegaram da família da rua do Pinheiro nos anos trinta.

O blogue vai continuar, ainda existem algumas fotos no meu computador, ainda há ruas para mostrar. Eu sei que tenho repetido ruas, que tenho repassado e que não tenho deixado as ligações necessárias, mas não é repetição é evolução. É o descobrir mais um detalhe ali ou falar de mais isto que falhou na altura.

O blogue é efémero e superficial, como outras tantas coisas. O profundo, o fruto de muito tempo de pesquisa e de verdadeira erudição está nos livros. Leitor, se queres saber mais, e mais ainda, vai ler os livros!

P.S.: Não sei quantas ruas existem na cidade, mas tenho quase a certeza que não fotografei metade das da minha freguesia. Para acabar com as ruas todas devo ter ainda pano para mangas.


Sem comentários: