29.7.08

Os sítios onde viviam os fidalgos


"Alberto Pimentel, que na sua volumosa e multifacetada obra nos legou das mais belas páginas sobre o Porto, escrevendo sobre os fidalgos que, no ano de 1863, ainda viviam na cidade dizia que "eram pouco numerosos" e que, por essa razão, também "eram poucos os palácios antigos e que esses poucos ficavam "distanciados uns dos outros" como que isolados apresentando "um ar triste de solidão aristocrática porque os seus ilustres habitantes viviam realmente solitários a dois passos de distância de uma sociedade que não era precisamente da sua raça nem da sua categoria…"

Ora esses palácios, os que lograram chegar até aos nossos dias, que há coisa de século e meio, se encontravam "a dois passos de distância" de uma sociedade que não pertencia à dos seus ocupantes, estão hoje perfeitamente integrados no seio do tecido urbano da cidade, mas mais solitários do que nunca porque já não albergam as famílias dos seus titulares e, na maioria dos casos, nem sequer lhes pertencem.

Mais em muitos casos, o cidadão comum dos nossos dias já nem sequer os identifica como tendo sido a morada da velha aristocracia portuense.

Lembremos, por exemplo, o palacete que foi, primeiro dos viscondes de Balsemão e, depois, do visconde da Trindade, na Praça de Carlos Alberto onde está instalada a Direcção Municipal de Cultura. Foi uma das mais importantes casas nobres da cidade. No tempo dos primeiros titulares estes franqueavam as portas da sua volumosa biblioteca a quem quisesse ler ou estudar.

O palacete que mais distante ficava do velho burgo, era o dos Brandões, na Torre da Marca, agora propriedade da diocese e a que anda ligada a curiosa lendo do Pedro Sé, o tal "que já teve e agora não tem…"

Em 1877 os Cunhas e Portocarreros, do Marco de Canavezes, ainda viviam no seu imponente palácio da Bandeirinha, agora propriedade de uma ordem religiosa feminina. Pertencia a esta família o tenente coronel do Regimento de Infantaria 6, João da Cunha Araújo Portocarrero, que, nas vésperas da segunda invasão francesa, uma multidão enfurecida assassinou, junto ao Padrão das Almas, actual Largo do Padrão, por suspeita de que fosse afrancesado.

Ao serviço dos Correios, na Praça da Batalha, continua a Casa dos Guedes, da Quinta da Aveleda, em Penafiel, em cujo jardim foi enterrado, junto a uma palmeira, o braço direito do Sá da Bandeira depois de ter sido ferido, durante o Cerco do Porto, no Alto da Bandeira, em Vila Nova de Gaia. Neste palacete realizaram-se os mais famosos bailes que houve no Porto nos finais do século XIX.

Conta-se numa crónica da época que a luz dos candelabros que iluminavam as salas, escorria pelas vidraças das amplas janelas para a rua iluminando os homens e animais que junto das caleches aguardavam os seus amos no meio da neblina húmida que inundava a praça…

E, olhando hoje para o edifício onde funciona a Junta de Freguesia do Bonfim, alguém saberá que foi das mais sumptuosas moradias da cidade? Pertenceu à influente e rica família portuense dos Cirnes e tinha anexa uma vasta propriedade que se estendia até à quinta de repouso do bispo onde depois foi construído o Cemitério do Prado do Repouso.

Muito curiosa é a história do Visconde de Pereira Machado que viveu no seu solar da Rua Formosa, esquina com a Rua da Alegria que serve agora de sede a uma associação filantrópica. O titular chamava-se Guilherme Augusto Machado Pereira e foi feito visconde em 15 de Dezembro de 1868. Na carta de mercê em que foi agraciado com aquele título, em vez de Machado Pereira escreveram Pereira Machado e foi com esta designação que passou a usar o título. Por causa disso denominavam-no "visconde às avessas…" Os bailes que nos finais do século XIX se realizaram nos salões deste palacete contaram, muitas vezes, com a presença da duquesa de Palmela e do duque de Saldanha.

Muitas mais famílias tiveram residências de maior ou menor aparato na cidade do Porto. Das mais antigas foram os Sás, a que pertenceu o célebre Sá das Galés. A sua casa, ainda hoje conhecida pelo Paço da Marquesa, ainda existe, muito alterada, claro, à entrada da Rua de Cima de Vila, ao lado esquerdo para quem entra da Rua Chã. Diz A. de Magalhães Basto que "tinha o luxo de uma verdadeira casa do Renascimento".

João Rodrigues de Sá, titular da casa, morreu em 1575 com 115 anos de idade e, quase até ao fim da vida" escreveram algures "praticou equitação". Um seu biógrafo acrescentou mais este pormenor "… com mais de cem anos domava cavalos por mais ferozes que fossem…"

Os sítios onde viviam os fidalgos da cidade

Ao lado, dentro da exiguidade de espaço disponível, referem-se alguns palácios que a antiga fidalguia tinha no Porto e que ainda estão de pé mas agora com aproveitamento diverso daquele para que foram construídos. Muitos houve no entanto que desapareceram, sem apelo nem agravo, por efeitos apenas de um urbanismo desenfreado. Foi o caso do solar dos Correias Montenegros (depois condes de Castelo de Paiva) que ficava na calçada de Vandoma, à Sé. O espaço hoje ocupado pela Rua de Álvares Cabral pertenceu outrora à famosa quinta dos Pamplonas, mais tarde condes de Resende. Possuía os mais belos jardins do Porto e os seus proprietários, aos domingos e dias santificados, abriam os portões da sua quinta ao povo que todos desfrutassem da beleza dos seus jardins. Muito alterados subsistem os palacetes dos Leites Pereiras, em S. João Novo; dos Pachecos Pereiras, em Belomonte; do conde de Azevedo, nos antigos Carvalhos do Monte, actual Largo do Primeiro de Dezembro; dos Noronhas, na Prelada; e dos viscondes de Veiros nas Águas Férreas."

Germano Silva
in Jornal de Notícias


Nota: Lamento que os arquivos do Jornal de Notícias já não estejam disponíveis na internet, depois da reformulação do "site". Por este motivo as ligações para aquele jornal deixaram de funcionar.



Quando o Porto cabia num círculo




Rua D. ANTÓNIO BARROSO

22|07|08


(antiga unidade fabril da Ach. Brito - hoje, 2008, transformada em condomínio)

Fotografia publicada no Flickr



Esta artéria, anteriormente já teve o nome de Travessa de Oliveira Monteiro e de Travessa da França

Se desejar saber mais sobre a Fábrica de Sabonetes que tanto teve o nome de Claus como o de Ach. Brito pode fazer um clique aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ach._Brito ou aqui: http://www.clausporto.com/quemsomos/detalhes.php?id=2&mod=2

Também a Wikipedia nos esclarece um pouco sobre este Bispo do Porto que era um virulento monárquico - assim uma espécie de Cónego Melo dos inícios do século XX:

António José de Sousa Barroso (Remelhe, Barcelos, 5 de Novembro de 1854 - Porto, 31 de Agosto de 1918) foi missionário em África, bispo de São Tomé de Meliapor e enfim bispo do Porto.

Aos 17 anos de idade vai estudar no seminário de Braga, e daqui transferido em 1873 para o Real Colégio das Missões Ultramarinas de Cernache, onde se ordenou em 1879.

Foi missionário cientista em Angola e em Moçambique. O seu relatório de 1894, sobre o "Padroado de Portugal em África" patenteia o valor da sua acção como bispo missionário.

Em 1899, será bispo do Porto. Em 1911, quando foi dada a conhecer a «Pastoral do Episcopado Português», em que se afirma desacordo com alguma Legislação do Governo, reaviva-se a luta anti-clerical. Os governadores civis proibem a leitura dessa pastoral e, por desobdiência a essa proibição, são presos dezenas de párocos. E o próprio bispo do Porto foi preso e levado, sob custódia, a Lisboa. Sempre afirmando a determinação apostólica, D. António Barroso conhecerá depois o exílio, de onde só voltará em 1914, para, afinal, voltar a ser exilado em 1917.


23.7.08

Rua SANTA SENHORINHA

20|07|08



Rua SANTA ESCOLÁSTICA

19|07|08

Publicada no Flickr

Historial:


"Santa Escolástica, irmã gêmea do grande São Bento, pai do monaquismo. Nasceu numa região no centro da Itália em 480; e tristemente perdeu sua mãe no parto.Santa Escolástica que era gêmea de Bento, tornou-se também gêmea de busca de santidade e missão, já que ambos deram testemunho de santos fundadores. A vida totalmente consagrada a Deus de Escolástica começou até antes do irmão, porém foi aprofundada quando seguiu o irmão até que ele se instalou em Cassino, assim Escolástica fundadora das irmãs beneditinas sempre esteve ligada com Bento.Relata-nos o Papa São Gregório Magno que Escolástica e Bento embora morassem pertinho, eles por mortificação se encontravam para diálogos santos apenas uma vez ao ano. Daí que no encontro que seria o último, Santa Escolástica pediu ao irmão que desta vez ficasse a fim de se enriquecerem
em conversas santas até o amanhecer, mas foi repreendida pelo irmão, pois seria causa de transgressão da Regra.Diante da resposta negativa do irmão e do coração que pulsava de amor fraterno, Santa Escolástica entrelaçou as mãos, abaixou a cabeça e rapidamente conversou com Deus. De repente armou um tamanha tempestade fora do lugar do encontro , que São Bento ficou impedido de sair com seus irmãos.Vendo o irmão zangado Santa Escolástica esclareceu: "Pedi a você e você não me ouviu; pedi ao Senhor e ele me ouviu. Vá embora, se puder, volte ao seu mosteiro". Depois daquela providencial partilha de graça e oração, São Bento retornou e ao passar três dias numa visão percebeu a morte de Santa Escolástica que o antecedeu 40 dias antes no céu."

(www.catolicanet.com.br/interatividade/santo/conteudo.asp-Arquivo da Toponímia)

Publicado aqui: http://www.cm-porto.pt/gen.pl?sid=cmp.sections/570&letra=S&fokey=cmp.toponimia/1803

Pois, pois. Mas esta informação da internet pouco nos diz a razão pela qual se deu tal nome a esta rua...

Será por acaso que a rua desta santa se encontra mesmo ao lado da rua da Beneditina?
Será que o autarca que propôs o nome da rua foi procurar uma justificação toponómica a um "site" brasileiro?


21.7.08

Imagem do Senhor d'Além na origem de conflito

"A capela do Senhor d'Além, que fica nas abas da Serra do Pilar, mesmo em frente aos Guindais, além-Douro, portanto, e daí o nome, e a respectiva irmandade foram, durante muitos anos, "administradas pela cidade" (do Porto).

Em determinadas ocasiões os edis portuenses, na qualidade de administradores do templo e da confraria, iam ao lado de lá buscar a imagem do Senhor d'Além para que participasse nas chamadas "Procissões de Preces".

Acontecia, por exemplo, em tempos de seca ou de inundações. A Câmara organizava então "procissões de preces", para pedir chuva, se fosse o caso, ou para solicitar o termo de calamitosas cheias.

Mas também se realizavam, com a presença da imagem do Senhor d'Além, "Procissões de Graças". Como aquela que aconteceu no dia 18 de Novembro de 1755.

Dias antes a cidade de Lisboa havia sido destruída por um terrível terramoto. A cidade do Porto saíra praticamente ilesa dessa catástrofe. Aqui caíra apenas o tecto da capela de S. Roque, que ficava perto da Sé; a torre da igreja dos padres da Congregação de S. Filipe de Nery (Congregados) e pouso mais. Logo naquele dia, segundo consta da acta da reunião municipal que então se realizou, "… sendo convocados na forma do estilo a Nobreza e Povo foi proposto pelo Procurador da cidade que, não tendo acontecido entre nós nem ruína nem mortandade, era justo fazer-se uma Procissão de Graças e que estas deviam ser rendidas especialmente à Veneranda Imagem do Senhor d'Além…"

Alguns anos antes (1734) a "Câmara e toda a Vereação" haviam acompanhada a mesma imagem numa imponente procissão fluvial até junto da barra por causa de "uma grande seca e falta de água na cidade…"

Ora, sempre que a Câmara ia ao lado de lá buscar a imagem do Senhor d'Além a fim de a levar para a Catedral, tanto à vinda, como no regresso, o transporte fazia-se, sempre, com grande solenidade, em procissão, na qual participavam o Cabido e as várias confrarias da cidade.

Tudo correu normalmente até um dia em que os cónegos reagiram mal a um convite da Câmara para estarem presentes em mais uma procissão. Tratava-se do regresso da imagem à sua capela do lado de lá. Entendiam os membros do Cabido que não deviam andar às ordens dos edis. Que estes não tinham qualquer autoridade para os convocar a participarem na procissão. E como se dava o caso de a imagem do Senhor d'Além estar na Sé, os cónegos mandaram dizer à Câmara mais ou menos isto " só vamos quando muito bem nos apetecer…" E não deixaram sair a imagem da Catedral. O conflito entre os do Município e os do Cabido estava instalado. Como sair dele?

Os vereadores, sentindo-se ofendidos (então não era a eles que competia administrar a capela e a imagem do Senhor d'Além ?) escreveram ao Juiz da Coroa pedindo providências e este escreveu ao cabido dizendo-lhe que " deixassem os edis levar, como sempre o fizeram, o dito Santo Crucifixo a seu arbítrio…" Mas o Cabido não só não deixou levar a cruz, como não respondeu ao oficio, nem a este nem a um segundo que o Juiz da Coroa lhe enviou.

Perante aquela insólita atitude dos cónegos, a Câmara apelou para uma instância superior, a Mesa do Desembargo do Paço que a 22 de Novembro de 1631 enviou um despacho favorável à Câmara dizendo ao Cabido que os edis "podiam levar o crucifixo mas privadamente sem ser em forma de procissão…" Era uma tentativa de resolver a questão que se arrastava sem solução à vista. No entanto, mais de dez anos depois, em 1646, a questão mantinha-se como no princípio a cruz só deixaria a Sé quando os cónegos assim o entendessem.

Perante este imbróglio a Câmara exigiu que fosse executada a sentença da Mesa do Desembargo do Paço. Aparece então o bispo a dizer que não, alegando que a sentença não tinha validade porque o prelado não fora ouvido. Mas a relação mandou que a sentença fosse executada. O conflito é que não ficou sanado.

A partir daqui a Câmara, sempre que ia buscar o Senhor d'Além ao outro lado do rio, em vez de levar o crucifixo para a Sé, como era tradição fazer-se, passou e conduzi-lo para a capela de S. Miguel-o-Anjo, junto à Porta do Olival, que também era administrada pela Câmara.


Conta uma velha lenda que Portugal ainda não existia como paÍs livre e independente quando, aí por 1140, uns pescadores dos Guindais, que andavam na apanha do sável no rio Douro, em frente ao sítio hoje conhecido pelo Senhor d'Além, trouxeram na rede um enorme crucifixo que estava no fundo do rio.

Movidos por grande piedade, os pescadores levaram a imagem para uma ermida da invocação de S. Nicolau que havia no cimo da actual Serra do Pilar a que antigamente se dava o nome de Monte da Meijoeira, de Quebrantões ou de S. Nicolau.

Quatrocentos anos depois os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho construíram ali um mosteiro que serve hoje de quartel e removeram a capela de S. Nicolau para junto do rio "para um penedo que está acima do cais". Com vários restauros, acrescentos e modificações é a que ainda hoje lá está agora sob a invocação do Senhor d'Além, do qual existe uma bela imagem (século XVIII) no cartório da Casa do Cabido, à Sé."

Germano Silva
in Jornal de Notícias



Rua BERTA ALVES DE SOUSA

17|07|08

Localizada aqui



Mas quem foi Berta Alves de Sousa?

"De seu nome completo Berta Cândida Alves de Sousa, nasceu em Liège (Bélgica), em 8 de Abril de 1906, de família oriunda do Porto, cidade para onde veio muito nova, aí radicando toda a sua acção de pedagoga e compositora. Diplomou-se pelo Conservatório local em 1942, tendo sido discípula aí de Moreira de Sá, Luís Costa, Lucien Lambert e Cláudio Carneyro. De 1927 a 1929, tomou lições, em Paris, com Wilhelm Backhaus e Theodore Szantó (piano) e George Mingot (composição). Em Lisboa, aperfeiçoou-se com Vianna da Motta. Interessando-se posteriormente pela direcção de orquestra, estudou com Clemens Krauss, em Berlim, e Pedro de Freitas Branco, em Lisboa. Frequentou mais tarde cursos de interpretação de Alfred Cortot (piano) e de didáctica musical do Prof. Edgar Willems.
Ingressou no Conservatório de Música do Porto em 1946 como professora da classe de música de câmara. Em 1949, passou a reger a cadeira de piano do curso superior do mesmo estabelecimento. Actuou simultaneamente em muitos recitais e concertos, quer a solo, quer como acompanhadora, quer ainda como regente.
Foi vogal do Instituto de Alta Cultura, realizou inúmeras conferências e desde 1939 exerceu a crítica musical no jornal "O Primeiro de Janeiro", do Porto.
Como compositora, a sua obra abarca especialmente a música de câmara, a música coral religiosa e a sinfónica, seguindo uma corrente estética impressionista e utilizando em larga escala, na sua escrita, a politonalidade. Tem realizado também experiências no campo da Simetria Sonora, modalidade que praticou junto do seu criador, o compositor Fernando Corrêa de Oliveira.
Em 1941, foi distinguida com o Prémio Moreira de Sá instituído pelo Orpheon Portuense.
Berta Alves de Sousa morreu no Porto a 1 de Agosto de 1997, estando o seu espólio musical actualmente na posse do Conservatório de Música do Porto."

Artigo publicado aqui.



Travessa da Bela Vista

18.7.08

Rua da BENEDITINA

14|07|08


Localizada aqui



"Não se sabe ao certo de quando data, mas figura já no Almanaque do Porto, de 1875. O topónimo recorda, sem dúvida, o senhorio do Couto de S. João da Foz pelos beneditinos do Mosteiro de Santo Tirso. A ermida de S. joão da Foz fora doada em 1145, por D. Afonso Henriques, a Roberto e seus confrades, na ermida de Riba de Paiva. Não se sabe, exactamente, como veio à posse dos monges negros. Dizem que doada, em 1176 por D. Soeiro Mendes. O certo é que ainda em vida de D. Sancho I, a sua filha a rainha D. Mafalda o coutou, confirmando-o em 1211, ao abade D. Mendo..."

"Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas


17.7.08

Rua do BOLHÃO

13!07!08

Publicada e localizada no FLICKR

"Bolhão significa uma bolha grande, um borbotão de água. E na verdade a origem do topónimo está numa grande nascente de água que existia --- e naturalmente existe --- no próprio local onde hoje se ergue o mercado. Ali, havia, ainda há menos de dois séculos, um grande lameiro, terras alagadiças, junto a uma quinta de que eram directos senhorios os condes de S. Martinho. É de 1741 a primeira referência que conhecemos ao Sitío do Bolhão. Em 1837 a Câmara decidiu instalar ali um mercado, mas as respectivas barracas só começaram a edificar-se em 1851, «com duas frentes alinhadas a todo o correr da praça» como nos informa Horácio Marçal num dos seus curiosos artigos d'O Tripeiro (1967)...."

"Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas


Rua PADRE XAVIER COUTINHO

11|07|08

Localizada aqui


"Padre Xavier Coutinho - Bernardo Xavier Coutinho, que nasceu em Ferreirim em 1909, vindo a falecer no Porto em 1987. Padre e romancista, foi professor na Universidade do Porto. Notável camonista, publicista fecundo no campo das artes, letras e história, deixou cerca de meia centena de obras de mérito."

Arquivo da Toponímia


11.7.08

E se tivessem destruído a igreja de S. Francisco?


Há 170 anos (1837) , a pressa de abrir uma nova artéria para serviço da cidade (a actual Rua de Ferreira Borges) levou à destruição de uma das mais belas igrejas do Porto - a igreja que pertencera aos Terceiros da Ordem de S. Domingos, mas que, nos últimos anos da existência do convento, substituíra o templo conventual que um incêndio havia destruído em 1777.

A igreja dos Terceiros, que "era um templo amplo e aparatoso" começara a ser construída em 1727, à entrada da Rua da Ferraria de Baixo (actual Rua de O Comércio do Porto).

A fim de conseguirem obter o terreno suficiente para a obra que se propunham realizar, os Terceiros tiveram que comprar umas moradas de casas nas imediações do convento. Consta, efectivamente, da acta de uma sessão municipal que "a Câmara foi autorizada a vender umas limitadas casas e boticas (lojas) que estavam encostadas à parede do claustro ou adro do Convento a fim de poder a Ordem Terceira fazer ali os alicerces junto da rua que vai para a Ferraria de Baixo".

A igreja só ficou concluída em 1740. As descrições que dela chegaram até aos nossos dias permitem-nos imaginar que se tratava de um templo de linhas elegantes e com uma bela fachada, como aliás pode facilmente constatar-se de um desenho que nos deixou J.C. Vitória Vila Nova.

De nada, porém, valeram os atractivos artísticos nem os valores arquitectónicos do templo. "Atrabiliariamente, segundo uma crónica da época, e sem respeito algum pelos valores existentes, a igreja desapareceu irremediavelmente sob o camartelo municipal".

Abandono

O pior é que o mesmo destino e por causa da abertura da mesma rua, esteve para ter a capela mor da igreja de S. Francisco, hoje Monumento Nacional. O convento, como se sabe, ardera logo a seguir à entrada no Porto das tropas liberais lideradas pelo rei D. Pedro IV. E a igreja havia sido profanada e estava votada ao mais completo abandono.

Ao tomar conhecimento de que havia a ideia de demolir uma parte da igreja para dar continuidade à rua que para ali se projectara, a opinião pública dividiu-se entre quem entendia que "igrejas era o que não faltava no Porto e mais uma menos uma tanto dava…" e os que de imediato saíram a terreiro a defender a manutenção integral do templo, um dos nossos mais belos monumentos do gótico mendicante.

Preservação defendida

Entre os defensores da preservação contavam-se os Irmãos da Ordem Terceira de S. Francisco que logo oficiaram à rainha, a Senhora D. Maria II, solicitando-lhe que impedisse a destruição da igreja.

A monarca atendeu o pedido com a condição de que, dali por diante, fossem os Terceiros de S. Francisco a administrarem o templo, zelando pela sua conservação. E assim tem acontecido.

A igreja-monumento, essa bela peça arquitectónica do gótico e barroco, possuidora da mais bela talha dourada que se conhece, conseguiu sobreviver ao camartelo municipal porque um punhado de homens esclarecidos em boa hora resolveram sair a terreiro em defesa da sua integridade.

Vem tudo isto a propósito de a igreja e a Torre dos Clérigos; e a igreja de S. Francisco, serem os dois únicos monumentos do Porto que figuram entre mais 21 candidatos às "Sete Maravilhas de Portugal".

Aí está, sem dúvida, um forte motivo para que todos nós, os portuenses, nos sintamos de veras orgulhosos. Mas esta candidatura trouxe-me à memória aquela intenção do passado, de reduzir a escombros um dos mais belos exemplares da arquitectura gótica.

Vou mais longe embora no edifício se registem ainda muitos vestígios do românico, a igreja de S. Francisco é o único exemplar do primeiro período do estilo gótico que existe no Porto. Por tudo isso, ocorre perguntar: e se tivessem destruído a igreja?

E se tivessem destruído a igreja de S. Francisco?

Parece-me estar a ouvir o leitor a perguntar " Então como é que a igreja dos Terceiros de S. Domingos, servia de templo aos frades dominicanos ?" A explicação é simples. Conforme se diz no texto a igreja do mosteiro ardeu em 1777. Isto foi o que disseram os frades. Segundo uma notícia da época saída no "Patriota Portuense" o incêndio só molestou uma parte da igreja mas os frades terão aproveitado o incidente para apelarem ao rei, na qualidade de protector da Ordem que os autorizassem a igreja dos Terceiros que, diziam os frades, estava "abandonada". O que, segundo parece, não era verdade.

De há muito que os monges não se entendiam com os Terceiros. E aqueles, aproveitando a saída dos irmãos da Ordem Terceira em procissão, foram à igreja e fecharam-na trancando as portas por dentro e impedindo os terceiros de entrarem.

Era este o "abandono" que eles referiram ao monarca. E sem darem satisfação aos legítimos donos do templo, os frades ocuparam-no até à sua expulsão da cidade em 1832.

Germano Silva



Rua SANTA ISABEL

08|07|08

Localizada no Flickr


A Rua de Santa Isabel tem mais de um século. Vem já mencionada no «Guia Histórico do Viajante no Porto», de 1864. Foi-lhe entretanto mudado o nome para Rua do Tenente Vidal Pinheiro, morto na batalha de La Lys (9 de Abril de 1918). Mais recentemente, o nome de Rua de Santa Isabel foi restituído à serventia que fora crismado nessa altura como Rua do Tenente Vidal Pinheiro.

"Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas

Rainha D. Isabel (1269-1336) "Rainha Santa". Mulher de D. Dinis, filha de Pedro III de Aragão e de D. Constança de Navarra. O povo criou á sua volta a lenda de santidade, atribuindo-lhe vários milagres. Foi canonizada em 1625.

Arquivo da Toponímia


8.7.08

Rua das LARANJEIRAS


06|07|08


Rua do PARAÍSO DA FOZ

04|07|08

Publicada no Flickr


Uma referência sobre esta rua:

" Orfeão da Foz do Douro

Fundado em 1 de Janeiro de 1916 por um grupo de jovens amantes da música e do teatro, sob o lema Arte e Beneficiência, o Orfeão instalou-se primeiro num edifício da esquina entre a Rua do Paraíso e a Rua Central, hoje Padre Luís Cabral (onde funcionou também a Cooperativa da Foz).

Sebastião Campos, Alfredo José de Pinho, António Cunha Matos, José Vitório F. Iglésias, Hernâni Júlio Rocha Lima, José Matos Vilar, entre outros são dos fundadores e dos primeiros activistas. Iniciou a sua actividade com um Grupo Coral que chegou a ter a participação de mais de cem elementos e era considerado um dos principais da cidade e do norte do país. Dentre as várias sedes que conheceu, antes de se instalar na Rua das Motas, realce-se a passagem pelo Café Central na Rua Senhora da Luz.

Presentemente, existe um Grupo Coral Misto, dirigido pelo Maestro Afonso Alves e que tem actuado em diversos encontros e concertos, quer na cidade do Porto, quer noutros concelhos.

O Orfeão da Foz do Douro em 1934 foi agraciado pelo Presidente da República com o Grau Oficial de Ordem de Benemerência e, pela Câmara Municipal do Porto, em 1966, com a Medalha de Ouro de Mérito Municipal. Em representação da Foz do Douro participa, desde 1991, ininterruptamente, no concurso de Rusgas de S.João do Porto, onde já obteve primeiros lugares em 3 anos de participação, e no cortejo do traje de papel integrado nas Festas de S. Bartolomeu da Foz do Douro."


3.7.08

Rua das OLIVEIRAS

03|07|08

Fotografia publicada e localizada no Flickr


Começa na Praça Carlos Alberto na esquina do palacete de Balsemão e acaba no Largo Alberto Pimentel, com esquinas para a Rua da Conceição e Travessa de Cedofeita. Recebe em frente ao Teatro Carlos Alberto a Rua Sá de Noronha. Oliveiras porque ia pelo Horto do Olival fora desde o Campo do Olival. Punha em comunicação a chamada Porta do Olival com a estrada de Braga, passando pelos caminhos de Santo Ovídio e do Sério. A Rua das Oliveiras distingue-se já na planta do Bairro dos Laranjais, pouco posterior a 1761, e vê-se com a actual
denominação na planta redonda de Balck, em 1813. O topónimo lembra não só o velhíssimo Campo do Olival, como o aspecto quase rústico do local até meados do século passado. No n° 43 encontra-se o Teatro Carlos Alberto (o primitivo Teatro Carlos Alberto foi construído em 1897 na antiga horta do palacete dos Balsemão).
Esta rua já se chamou viela dos Ferradores.
Um dos prédios, creio que aquele que se encontra completamente degradado há mais de uma década já abrigou várias escolas importantes da cidade, entre elas, a escola que formava professores primários. Duas livrarias nesta rua: A Livraria Vieira, logo no início, junto de Carlos Alberto e a Poetria no centro comercial Lumière.

O largo Alberto Pimentel nasceu do alargamento no encontro das ruas das Oliveiras, dos Martires da Liberdade (antiga Rua Direita de Santo Ovídio, vulgarmente chamada da Sovela). Tem uma fonte, enquadrada por chorões,
onde hoje temos dois ou três pequenos jacarandás, que já esteve ligada à Arca de Água, assim como estava ligada a fonte dos Leões. Nele se situa a Livraria Académica, um dos muitos alfarrabistas existentes nesta zona.


2.7.08

Rua ALBERTO AIRES DE GOUVEIA

02|07|08

Localizada aqui



Esta artéria já teve os nomes de Rua do Carranca e de Rua da Liberdade


A rua que hoje tem nome deste notável pintor portuense (1867-1941), biografado por seu sobrinho, o Senhor Alfredo Allen. Chamou-se antes Rua da Liberdade, e antes ainda, Rua do Carranca ou dos Carrancas. A Rua do Carranca figura já na planta de Balck (1813). A sua urbanização começou antes que a da Restauração, desaparecendo em 1842 o chamado Adro dos Enforcados onde davam sepultura aos que morriam por justiça. A sua capela foi reedificada na cerca do Hospital de Santo António.


Existe uma biografia de Alberto Ayres de Gouvea, pintor portuense, da autoria de Alfredo Aires de Gouveia Allen.


1.7.08

Amar o Porto

«Embora a pós-modernidade avassaladora que nos conduz de défice em défice até à vitória final, daqui por outro milénio, considere estas coisas pirosas, retrógradas e, quando não, reaccionárias, penso que, em muita gente, continua a existir um vivo sentimento de pertença ao Porto.

Sentimento expresso em laços que se atam, firmes, em íntimas ligações afectivas com os lugares, em entranhadas formas de identificação com a cidade, nas suas grandezas e misérias, nas suas aspirações e desconcertos. Expresso naquilo que os provincianos em geral e em particular os mais de todos, que são os da capital do Novo Império, consideram a pior baixeza o bairrismo portuense. A isso, alguns - não sei quantos - tripeiros gargalham e não será o "patriotismo global" e a modernidade do couce (querendo dizer para trás, atrás, na retaguarda onde continuamos, não obstante Mestre Camilo ter escrito que o país entrava no futuro aos couces), que os fará esquecer de tal atributo.

Bairrismos. Por exemplo, um jovem ex-autarca e ex-político (daqueles de que o país precisa activos, competentes e, sobretudo, íntegros e que, talvez, por isso se afastam desta lamentável comédia de costumes a que assistimos diariamente), escreveu-me dizendo: penso que gostaria de saber que dei um pequeno contributo, ou melhor, dois pequenos contributos para inverter a taxa de natalidade do nosso Porto. No dia 26 de Janeiro nasceram, em Paranhos, o Francisco e o João. O próximo passo pretendo que seja o regresso ao Porto, em 2008. Não é isto uma prova de amor e fidelidade à cidade? Pois que regresse rapidamente ao Burgo e, se possível, à política, onde faz muita falta. E vivam os dois neo-tripeiros!

Também de um amigo - como eu nascido na Vitória - professor catedrático na Universidade do Minho, onde se exilou, recebi carta emotiva e repleta de nostalgias da sua infância portuense, de que, pelos vistos, não quer libertar-se, nem quer esquecer. É uma maravilha e, entre outras coisas, diz (a propósito de uma foto sua, com outra companheira de infância) "Apesar da idade que tínhamos a Lili e eu, ficamos bem na fotografia, de pose, que tirámos no estúdio fotográfico que ficava, também, na nossa rua. Era um rés-do-chão, creio que pegado à casa em que vivia o Carlos Alberto Enes e sua irmã Fátima, que foi o meu primeiro "namorico"".

Na realidade pisei pela primeira vez o palco, com cinco anos pela mão da família Resende e até aos meus 15 anos fui representando, fazendo rir e cantando, normalmente em solo, inserido nesse grande clube que era o Rádio Clube Infantil. Várias árias de óperas eram adaptadas para português e de forma jocosa. Aquela que cantei com a Lili era da ópera genoveva, de Schumann. Todos os textos tinham o dedo de D. Emília Resende e de seu filho Resende Dias.

Outras se seguiram, terminando com "La Donna E Mobile", num espectáculo no Coliseu cheio, em que fui compère, na roupagem de um sinaleiro e por isso cantava um automovilé, dois automovilés e seguia-se toda a ária, com adaptação da letra nesta base."

E, adiante, conta "Frequentei o Chave d'Ouro e o Tropical, na Batalha, onde convivi com a Dalila Rocha e o Jaime Valverde. Também na minha lista constam o Palladium, o Avis e o Estrela. Joguei muito bilhar no Palladium: livre, 104, sargento, 3 tabelas, etc. Quando veio o snooker, ao disputar o torneio da cidade, fui ao Rivoli, ao Café Novo e à Confeitaria Peninsular."

E mais evoca "Veio-me à memória a recordação dos "trampolineiros", que vendiam banha da cobra na Cordoaria, sempre acompanhados do seu macaquinho. Recordei as vezes que, miúdo como era, acompanhava a minha criada à Adega Macedo para encher o garrafão de vinho para a semana e ir a uma casa, nos fundos, que depois passou a ser o Avis, comprar petróleo, carvão e carqueja. Acompanhei muitas vezes a minha avó ao Mercado do Anjo e ao do Peixe, junto às Virtudes, agora Palácio da Justiça."

E ainda à frente "Frequentemente admirei a miniatura do eléctrico que se encontrava dependurado num armazém de fazendas, lembrando o desastre provo-cado por um grande "amarelo" que, ao descer a Rua das Carmelitas (e não a da Assunção), não conseguiu fazer a curva para descer os Clérigos e espetou-se nesse armazém, que à porta sempre tinha um caixeiro a chamar a clientela."

E, depois de mais considerações, remata "A carta já vai longa, a saudade e as recordações são muitas e ao escrever sempre me vieram ao rosto algumas lágrimas." (Entendem o que é o sentimento de amar o Porto, esta cidade única, dramática e - apesar de tudo quanto lhe têm feito - nobilitante e inesquecível?) »

Hélder Pacheco