24.5.08

Largo da RAMADA ALTA

34|05|08

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Não sabemos ao certo de quando data o topónimo Ramalda Alta, nem mesmo se é muito antigo. Cremos que será relativamente recente. De qualquer maneira, é mais um testemunho do panorama rústico às portas da cidade, em tempos não muito recuados.Tomou a denominação de uma quinta que ali existia, pertencente, em meados do século passado, à familía Barros Lima. Hoje só a pequena capela do Senhor da Agonia existe.

"Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas



Sobre a tília, e o Largo da Ramada Alta, escreveu João de Araújo Correia em "Pó levantado" (1970):

"Sempre que passo à Ramada Alta, nas minhas idas ao Porto, fico encantado com aquele recanto de província, miraculosamente conciliado com a passagem de tanto automóvel. Digo entre mim: qualquer dia, desaparecem a capela e aquelas duas árvores, aquelas duas tílias que lhe fazem sentinela. O largo, que ainda se chama largo e que até se chama da Ramada Alta, nome antigo, de arredor de cidade, morrerá ou se crismará em praceta, sem capela e sem árvores ou só com dois palitos, floridos de cimento, como homenagem à natureza extinta. É preciso que a Ramada Alta mude de nome, que não cante ali nenhum pássaro, nem ali se fabrique, em folha natural, o velho oxigénio, um anacronismo, e que o ar se polua e engrosse com as emanações de tanto automóvel. Só assim o larguinho, com o nome de praceta, merecerá o bilhete oficial, que o acredite como coisa citadina. (...)

Sempre que passo à Ramada Alta, fico encantado com aquele pedaço de coisa antiga ainda viva e até com o seu ar de vivedoira. (...) Começa hoje a pensar-se, lá fora, que o melhor processo de fixar boa gente, nas cidades, é não as desfigurar. Se o mau urbanismo as desfigura, substituindo por monstruosidades as coisas graciosas, o morador que trabalha foge para o campo. Se lhe falta ar respirável, ar de família, emanado de alguma coisa velha, com sua tradição, deserta. Entrega a cidade ao banditismo, que se apodera de bairros construídos, de um dia para o outro, por arquitectos sem alma.

O Porto, que vai sacrificando a um progresso mal compreendido os seus velhos palácios, que arranca árvores por dá cá aquela palha progressista, vai perdendo, de ano para ano, o ar tripeiro. Começou a perdê-lo com a
destruição do convento da Avé Maria, o prolongamento da Praça da Liberdade e o suplício do palácio de Cristal. Substituiu-o por horroroso sapo-concho. A população do Porto aumentou muito nos últimos anos.

Mas, se o Porto se envergonhar da fisionomia tripeira, verá o que lhe pode acontecer. Obrigará à deserção os
que se não contentam com o funcional. (...)

O Largo da Ramada Alta, se não morrer (...), será um elo capaz de prender ao Porto uma ou duas almas incompatíveis com o banditismo.

Publicada por Maria Carvalho em 10.3.05 em Dias com árvores


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