1.9.06

Largo do PRIORADO

Torre sineira da actual Igreja de Cedofeita


Igreja Românica de Cedofeita

Da Igreja de Cedofeita e da origem da Freguesia

Dos estudos realizados, tudo aponta para que as origens da freguesia, estejam associadas ao primitivo povoado que nasceu, se desenvolveu e prosperou à sombra tutelar da velhinha igreja românica, que ainda hoje existe no Largo do Priorado e que pertenceu a um convento de Cónegos Regrantes de Santo Agostinho.

O templo é, de facto, muito antigo. A sua construção é anterior à da própria Sé Catedral. Provavelmente trata-se da mais antiga igreja do Porto.

Mais: com toda a probabilidade a velhinha igreja de Cedofeita já era gente, há muitos séculos, e Portugal ainda nem sequer existia politicamente.

Diz quem sabe destas coisas que a Norte do Douro a igreja românica de Cedofeita é o único monumento do género que nos ficou do período medievo.

Missas garantidas com salvo conduto

Conta a tradição que a cidade do Porto foi fundada no ano 417 da nossa era. Pelo espaço de três séculos experimentou três diferentes possuidores: os suevos, que a fundaram; os godos que a conquistaram; e os mouros que dela se senhorearam até ao reinado de Afonso 1 de Leão, a quem chamaram «o católico».

Durante a vigência moura, a igreja de Cedofeita foi o único templo cristão da área de jurisdição sarracena em que, sem qualquer interrupção, sempre se celebrou o santo sacrifício da missa, mediante um tributo que os cónegos pagavam às autoridades mouriscas. Esse consentimento foi dado através de uma «Carta de Jusgo», palavra muito utilizada pelos antigos significando «Justiça», «Perfeita», «Observância total das leis», «Igualdade», «Sossego», «Paz».

Era do seguinte teor a referida «Carta de Jusgo»:

«Abdelassis Abhrem Mahomet, por illah illalah senhor da cidade do Porto, e da gente da Nazareth, pela qual ordeno que os Presbíteros e Christâos do Mosteiro de Cedofeita que morão junto à dita cidade do Porto, e seu mosteiro possuão os seus bens em paz e quietação sem opressão, vexame. ou força dos Sarracenos; com a condição que não digão Missas senão com as portas fechadas e não toquem as suas campainhas; e paguem pelo consentimento 50 pesantes de boa prata anualmente e pos-são sair e vir à cidade com liberdade e quando quizerem, e não vão fora das terras do meu mando sem meu consentimento e vontade; assim o mando; e faço esta carta de salvo conduto, e a dou ao dito Mosteiro para que a possua para seu sossego...».

O Pesante era uma moeda de prata mais ou menos do tamanho da actual moeda de cinco escudos.

Inscrição apócrifa

Na frontaria do templo, mesmo por cima da porta principal, está gravada no granito uma inscrição latina que dá o ano de 559 como o da fundação da igreja. O teor da inscrição e, sobretudo, a indicação daquele ano como sendo o da fundação do templo suscitou e alimentou, durante anos, uma apaixonada discussão entre historiadores e investigadores que acabou com a conclusão de que a inscrição é apócrifa, por tanto não verdadeira, e que terá sido ali colocada aquando de uma remodelação feita no templo e redigida sem qualquer fundamento histórico.

Os mais antigos e fidedignos documentos que se conhecem, relacionados com o mosteiro de Cedofeita, remontam à Baixa Idade Média. São dois: uma bula do Papa Calixto II, datada de 1120, a qual apenas cita o mosteiro; e a carta de doação de D. Afonso II, do ano de 1218, na qual, com base em informações dos próprios abades e cónegos regrantes, o monarca faz saber que «D. Afonso, nosso senhor e avo (Afonso Henriques) reparara o dito mosteyro e anovadamente o dotara».

As lendas

«Ao longo dos séculos», desabafa Carlos de Passos, no seu precioso Guia Histórico, «este velhinho templo, venerável relíquia românica do velho burgo portucalense, suportou mais agravos dos homens do que dos elementos corroedores da própria Natureza». A sua existência milenária e a escassez, quando não a total ausência, de documentos escritos sobre a sua fundação deram azo ao aparecimento das mais variadas lendas, algumas de todo inverosímeis.

Pode dizer-se que há duas versões que são as mais correntes sobre a fundação da igreja de Cedofeita.

Uns sustentam que foi fundada pelo rei suevo Reciário, que reinou em 446 e que foi o primeiro dos reis suevos a abraçar o cristianismo. Outros dizem que a fundação da igreja se deve ao rei Teodomiro, também suevo, que a terá mandado construir em 14 de Janeiro de 1059 e nela se fez baptizar conjuntamente com o seu filho Ariamiro.

Consta que Teodemiro, não encontrando remédio para a enfermidade de seu filho Ariamiro, recorreu a S. Martinho de Tours aonde mandou embaixadores com ofertas de tanta prata e ouro quanto pesasse o filho enfermo. E com tanta fé Teodomiro acreditou neste milagre que logo a seguir à partida dos seus embaixadores ordenou que se começasse a construção de uma igreja em honra de S. Martinho.

O empenho posto no levantamento do templo foi tal que quando os embaixadores chegaram com as relíquias já ela estava concluída. E foi devido à rapidez da construção que veio a dizer-se «Cito Facta», o que significa «Feita Cedo» e que veio a dar CEDOFEITA.

O templo primitivo sofreu, ao longo dos séculos, muitas alterações e reparações. A actual igreja reflecte, sobretudo, as modificações introduzidas pelo prior D. Luis de Sousa Carvalho, em 1742. Não obstante, trata-se ainda de um dos mais belos exemplares românicos do Norte de Portugal.

Depois de se ter introduzido nas igrejas catedrais o sistema da vida em comum, passou a ser tão grande o número de clérigos que procuravam servi-la, que em muitas igrejas paroquiais se estabeleceram Colégios clericais com organização semelhante à dos Cabidos. Certos mosteiros também se transformaram em colégios de cónegos por ser permitido aos monges que se apartavam da sua regra seguir o instituído por que se regiam os cabidos.

Esta foi a origem das colegiadas, que dos cabidos se distinguiam por serem presididas pelo pároco, com o título de Prior, ao passo que os cabidos eram presididos pelos bispos.

Desconhece-se a data da fundação da Colegiada de S. Martinho de Cedofeita.

De 1221 existe um documento que a ela se refere. Mas é muito provável que a sua criação seja anterior àquela data.

D. Nicolau de Santa Maria diz que já antes de 1118 a Colegiada existia e que tinha Prior e Cónegos que viviam segundo a regra de Santo Agostinho. As Colegiadas no século XVI formavam dois tipos: o das insignes, ao qual pertenciam a de Cedofeita e a de Guimarães, por exemplo; e o das menores.

A Colegiada de Cedofeita distinguiu-se também pelos varões ilustres que nela serviram, entre os quais a figura cimeira do Prior D. Nicolau Monteiro, que foi bispo do Porto, doutor em cânones pela Universidade de Coimbra, confessor da rainha D. Luisa de Gusmão, bispo eleito de Portalegre e da Guarda, conselheiro d'Estado, mestre dos filhos de D. João IV, embaixador deste monarca ao pontífice Urbano VIII advogando eficazmente em Roma a justiça de Portugal contra as pretensões de Castela. Além desta grande figura da Igreja, também se notabilizaram na Colegiada de Cedofeita: S. Pascásio, discípulo do primeiro prior, S. Martinho de Dume; D. Beltrão de Monfaves, que foi prior e depois cardeal; D. Gonçalo Pereira, deão do Porto, arcebispo de Braga, avô do Condestável do reino, D. Nuno Álvares Pereira; D. Henrique (infante), irmão de D. João III, arcebispo de Braga e Évora, cardeal e depois rei de Portugal; D. Frei José Maria da Fonseca e Évora, prior comendatário e depois bispo do Porto.

O ermo de Cedofeita

Ao dobrar o ano de 1571, o prior e cónegos da Colegiada de S. Martinho de Cedofeita mandaram ao bispo do Porto uma petição: queriam sair do sítio onde estavam e sugeriam a mudança para junto da Porta do Olival. Diziam os da Colegiada, na referida petição: «Se há igreja que tenha necessidade mui urgente para se trasladar e mudar de êrmo e despovoado para povoado e lugar da cidade acomodado para isso, é esta igreja de S. Martinho de Cedofeita, por muitas razões...». E entre as razões invocadas alegavam que a «igreja não é bem servida, principalmente quando as cheias e tempestades do Inverno e as calmas do Verão tornam impossíveis ou difíceis as longas jornadas entre a Porta do Olival (na Cordoaria) e o longínquo lugarejo de Cedofeita...

Havia ainda outra razão. «A igreja estava num lugar ermo e despovoado e os fregueses, que eram pescadores e lavradores, moravam muito afastados dela e durante a semana ninguém assistia aos ofícios divinos e por vezes até havia dificuldade em arranjar quem ajudasse às missas...».

O couto

Não há dúvida de que existiu o «Couto de Cedofeita», apesar de alguns historiadores afirmarem que é falsa, que não existiu, a «Carta de Couto» que teria sido conferida por D. Afonso Henriques. Um documento datado de 1849 pormenoriza que o Couto começava no fim da Rua da Rainha (hoje de Antero de Quental), corria pelo Monte Pedral até ao Carvalhido, na Rua da Natária, e confrontava com Paranhos. Do Carvalhido seguia pela Rua da Carcereira até à Cova do Monte, fim da Quinta do Vanzeller, partia com Ramalde e com a estrada para Lordelo e vinha ao Douro. Acompanhava o rio até ao começo da Calçada de Monchique (que ficava já dentro do COUTO) e daí subindo à Rua dos Carrancas partia com Miragaia. Continuava até ao Adro dos Enforcados (traseiras do Hospital de Santo António) onde confrontava com Santo Ildefonso, seguia pelo Rua do Paço até à cerca dos frades do Carmo, Travessa do Carregal, chegava ao canto do Hospital do Carmo, circuitava a Praça dos Ferradores (hoje de Carlos Alberto) até ao cunhal do Palácio dos Balsemãos, Rua das Oliveiras e Sovela, Campo de Santo Ovídio, Rua da Lapa e lado poente da Rua da Rainha até Paranhos. Todo este território, que hoje está incorporado no tecido urbano da cidade e intensamente povoado, era, ainda na segunda metade do século XVII, simples arrabalde campesino da cidade.

Era tudo quintas, casais, campos de cultivo, hortas e soutos. Apenas o lugar de Massarelos, habitado por pescadores e mareantes, tinha alguma importância...

Quando se terá verificado a integração do Couto de Cedofeita no tecido urbano da cidade do Porto? A resposta, pelas razões já atrás várias vezes referidas (escassez de fontes e falta de documentos) não é fácil de dar. Mas é muito provável que a integração se tenha feito na transição do século XVI para o século XVII. Ou talvez antes. De certeza, sabe-se que a Mesa Grande da Relação, em 9 de Outubro de 1710, ampliou a área limitada pela Muralha Fernandina com as das freguesias contíguas: Vitória, Miragaia e Santo Ildefonso; e também com as de Massarelos e Cedofeita. Esta medida da Mesa Grande, que fixava os novos limites da cidade, já abrangia a área do Couto de Cedofeita.

Germano Silva - "Monografia de Cedofeita"

Curiosidade:

A 20 de Março de 1922 o ministro da Instrução anuncia a próxima compra de 20.000 metros quadrados de terreno do antigo Passal do Priorado de Cedofeita para a construção do novo edifício do Liceu de Rodrigues de Freitas.

Este busto já esteve na Alameda Basílio Teles. Foi trazido para o Largo do Priorado em Outubro de 2004.


JEAN HENRI DUNANT (ou Henry Dunant) - (Genève - 8/5/1828 - 30/10/1910). Fundador da Cruz Vermelha. Juntamente com F. Passy recebeu o 1° Prémio Nobel da Paz (1910).

Jean Henri Dunant na wikipedia

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